segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Meu cenário

O meu dia precisa de cores, menos calor, menos sol. Um dia nublado e cinzento, eu subo nas árvores e pinto as nuvens de azul. Desenho uma bola amarela à direita e com um pouquinho de tinta vermelha faço um sorriso na cara amarelada do sol. Coloco a mão no bolso, e com um sopro as notas amassadas viram pássaros que voam cantando entre o trânsito, abafando o som das buzinas. Atrás de um prédio, eu puxo uma corda que faz cair as cortinas do dia e chega logo a noite, com a lua por entre as nuvens. Bailando e rodando em cima do asfalto, o canto faz nascer flores e plantas por entre os rachos e buracos dos cimentos e pedras. As nuves rodopiam no ritmo dos meus passos, e logo voam para se refletir no mar. Com a ponta do dedo molhado em tinta prata, faço milhares de estrelas brilhando no céu. No meu vestido branco florido, estendo uma toalha xadrez por entre as flores, sento e coloco as mãos atrás da cabeça, como apoio para a cabeça ao deitar. Espero meu amor chegar. Bebemos sucos de laranja e bolo de cenoura com cobertura de chocolate, e eu acordo com o barulho de tiros na rua de trás depois de um sonho lindo.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

cotidiano;

Mas e quanto ao mundo propriamente dito? Você acha que ele é possível? O mundo também fica pairando livremente no espaço. O triste de tudo isto é que, à medida que crescemos, nos acostumamos não apenas com a lei da gravidade. Acostumamo-nos, ao mesmo tempo, com o mundo em si.
Ao que tudo indica, ao longo da nossa vida nós perdemos a capacidade de nos admirarmos com as coisas do mundo. Mas com isto perdemos uma coisa essencial, pois em algum lugar dentro de nós, alguma coisa nos diz que a vida é um grande enigma. E já experimentamos isto, muito antes de aprendermos a pensar. A maioria do que nos rodeia é tão absorvido pelo cotidiano que a admiração pela vida acaba sendo completamente reprimida.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

inevitável egoísmo

- Estou com a cabeça às voltas.
- Beba um gole de whisky, não existe nada melhor que whisky para clarear as idéias. É natural que você tenha o espírito lerdo, uma vez que insiste em beber cerveja. Você não é um mau rapaz, mas acontece que não bebe. A sobriedade perturba a conversação. Quando falo a respeito do bem e do mal, falo convencionalmente. Não atribuo significação alguma a essas palavras. Ninguém me induzirá a instituir uma hierarquia de ações humanas, emprestando dignidade a umas e vituperando outras. Os termos vício e virtude não possuem sentido algum pra mim. Não louvo nem censuro. Apenas aceito. Sou a medida de todas as coisas. Sou o centro do universo.
- Mas existem outras pessoas no mundo.
- Eu falo apenas por mim. Só me apercebo dessas outras pessoas na medida em que elas limitam as minhas atividades. O mundo também gira em torno delas, e cada uma julga ser o centro do universo. Meus direitos sobre elas não vão além do alcance de minha força. O que eu posso fazer é o limite do que devo fazer. Somos gregários, e por isso vivemos em sociedade. E a sociedade se conserva unida por meio da força, a força das armas e a força da opinião pública. Dum lado tens a sociedade; do outro, o indivíduo: cada um dos dois é um organismo que luta pela sua conservação. É a força contra a força. Eu me encontro só, obrigada a aceitar a sociedade. Mas eu me submeto às suas leis porque sou compelida a isso. Não lhe reconheço a justiça e nem sei o que isso seja, pois conheço apenas a força. Ela cria leis que visam à sua própria conservação, e se eu as violar sou morta ou encarcerada. A sociedade procura atrair-me para o seu serviço acenando-me com honrarias, riquezas e o bom conceito de meus semelhantes. Sou, porém, indiferente à opinião deles. Desprezo e posso muito bem dispensar a riqueza.
- Mas, se todos pensassem assim, o mundo viria abaixo num instante.
- Nada tenho que ver com os outros. Só me ocupo comigo mesmo. Tiro proveito do fato de que a maior parte da humanidade é levada, com o olho nas recompensas, a realizar coisa que, direta ou indiretamente, vem beneficiar-me.
- Considero esse um modo extremamente egoísta de encarar as coisas.
- Julga, por acaso, que o homem seja capaz de fazer alguma coisa a não ser por propósitos egoístas?
- Julgo.
- É impossível que assim seja. Quando ficar mais velho, compreenderá que a coisa mais necessária para tornar este mundo um lugar tolerável é reconhecer o inevitável egoísmo da humanidade. É absurdo exigir altruísmo por parte dos outros: para que sacrificariam eles os seus desejo pelos nossos? Quando você quiser compreender que cada um, no mundo, se preocupa apenas consigo mesmo, exigirá menos dos seus semelhantes. Já não lhe causarão decepções e passará a olhá-los com mais simpatia. Os homens buscam, na vida, uma única coisa: o prazer.
- Você está misteriosa.
- Estou embrigada.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Amargamente

Um desgosto.
Um amor com sabor amargo.
Doloroso e penoso.
Quem tem, sabe o sabor que é.
O desgradável sentir.
Duro, ofensivo.
Irritante e mordaz.
Mistura-se ao doce.
E doce se faz.
Um aperitivo quando é correspondido.
Um desagrado quando for desvalido.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Repugnância,

Por todos os seres desta Terra, que mal sabem pronunciar corretamente a própria língua, e acham-se dignos de tudo e fazem o que bem lhes entende, sem um primitivo pesamento.
Por nossa sociedade ridícula, que julga e escarra na cara de erróneos, e mais tarde comete-se o mesmo erro, e sorriam um sorriso hipócrita.
Pelas pessoas que pensam demasiadamente nas palavras dinheiro e riqueza, e falam exageradamente o termo chique.
Por tudo o que me envolve, o que me circula. Toda essa mentira de um mundo podre e pobre.
Pelo certo e o errado.
Pelo amor, que se confunde com desejo e nos tráz tanta tristeza.
Pelas pessoas que julgam entender desse sentimento, que se acham realmente um servidor e amanhã traem, mentem e choram.
Por quem imagina saber que entende e compreende tudo o que está em nossa volta. Mesmo não entendendo ao menos o porquê de estar vivo.
Por essa inutilidade que vivemos, nascemos e morremos.
Por essa vontade de querer viver, aproveitar a vida que não vale o esforço de anos de trabalho e stress.
Pela libertinagem das pessoas, que vivem em torno do amor e não da razão.
Pelas pessoas que acharão isso desamasiado funesto, e que pensam que o mundo tem muito para nos oferecer.
Nós não somos nada.
A vida é uma fatalidade.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Chuva

Hoje choveu pedras de gelo. Eu estava dormindo, e acordei. Depois não sabia se era verdade, ou se foi um sonho. Então, hoje talvez tenha chovido pedras de gelo.
Chuva, lava o rastro de mediocridade que as pessoas deixam pela rua. Tira o cheiro de suor por onde passam. Lava as paredes, e desaparece com a sujeira que deixam quando encostam.



http://chuva.tumblr.com/
Combina com os últimos dias.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

ninguém é de ninguém


Não há e nunca houve respeito. Não há e nunca houve a forma certa de amar, de ter afeto ou carinho. O problema é que nos acostumamos uns com os outros, e isso nos acomoda de uma forma tão grande, que passamos a mudar os planos de nossas vidas para viver ao lado de uma pessoa que você acha que conhece muito bem, e crê profundamente que é a pessoa perfeita e que não vai existir ninguém no mundo igual a ela. Engano nosso. Sempre vai existir alguém melhor, sempre. E essa pessoa, algum dia vai te decepcionar. Sortudos são aqueles que conseguem perdoar, mas perdoar não é esquecer. E quem sofre mais, é quem perdoa, porque nunca esquece. Sempre haverá um pensamento errado, um olhar vulgar ou uma traição na volta do trabalho. Infelizmente, isso é normal nos dias de hoje. O que eu queria era aquele amor ultrapassado, que durou quarenta anos no matrimônio, que fez serenatas quando era jovem e mandou cartas de amor que guardaram numa caixinha junto às flores secas enviadas e os brincos ganhados. É uma pena que as pessoas não façam mais belas músicas em nome do amor, num ritmo bossa nova cantando como é a vida sem ela. Por que as pessoas precisam de mais, se elas já tem tudo o que querem dentro de suas próprias casas? Para quê se aventurar e correr o risco de perder tudo o que construiu em anos, só por causa da majestosa curiosidade e do glorioso prazer? E para aquelas mulheres que se dão para homens compromissados e com família, a minha lástima. Acharam a buceta no lixo, com certeza.
Pior são aqueles que acreditam quando dizem "eu te amo", e realmente acham que existe amor, enquanto no pensamento só há "sexo, sexo e sexo".
Enfim, não há forma melhor de aceitar que ninguém é de ninguém. Você vai escolher a pessoa com quem quer passar o resto da sua vida juntos, vai trair, vai ser traído, vai perdoar e vai ser perdoado. Nessa história, a única coisa que podemos fazer, é torcer para não pegar aids.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Mais um adeus.

Olha, benzinho, cuidado,
Com o seu resfriado,
Não pegue sereno,
Não tome gelado.
O gim é um veneno.
Cuidado, benzinho,
Não beba demais,
Se guarde para mim.
A ausência é um sofrimento,
E se tiver um momento,
Me escreva um carinho,
E mande o dinheiro,
Pro apartamento,
Porque o vencimento
Não é como eu:
Não pode esperar!
O amor é uma agonia
Vem de noite, vai de dia
É uma alegria
E de repente
Uma vontade de chorar...



Vinicius de Moraes

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

sem escolha.

- Você não devia tratá-lo mal.
- Homens não merecem carinho, não merecem um aconchego no frio, as mãos no cabelo, um beijo de boa noite. Se eu vejo um sorriso bonito, um jeito engraçado, no fundo eu penso que ele é só meu, que eu nunca vou encontrar alguém tão interessante, mas continuo com a cara de ranzinza e escondo todo esse lado melancólico.
- Por quê está junto, se ele não merece?
- Porque eu amo e não tenho como apagar isso de mim. Todo mundo algum dia já quis deixar de amar, porque às vezes dói. Mas eu o amo, mesmo depois de tudo o que aconteceu, de todas as mentiras e traições, eu o amo.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Redução.


Ligo ou não ligo?
- Por favor eu queria marcar uma consulta.
- Em que horário?
- Pode ser quando eu criar coragem?

Reduz reduzir reduzindo,
enquanto muitas vão aumentando
querendo,
desejando.
Estética!
Ou auto-estima?

Eu só queria ser olhada nos olhos, e não no busto.
- Hey, enquanto a gente conversa dá pra vcê parar de olhar aí? Otário!

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Piegas

Um amor perdido, não deixa de ser amor.
Se transforma.
Você não o vê,
não sente os cabelos,
não beija os lábios,
não passa um dia frio abraçado.
Mas ele existe.

quarta-feira, 13 de maio de 2009


- Olhe, pode ser que os homens sejam bons, ou sejam maus, não sei...Mas são evidentemente inúteis, supérfluos...
- Como assim?
- Quero dizer que a humanidade inteira poderia perfeitamente ser dispensada, é apenas uma feia excrescência na face do mundo, uma verruga...O mundo seria muito mais bonito sem os homens, sem suas cidades, suas ruas, seus portos, seus pequenos arranjos...Imagine só como seria bonito o mundo se só houvesse céu, mar, árvores, terra e animais.
Não pôde deixar de rir e exclamou:
- Que idéias esquisitas você tem.
- A humanidade - continuou - é uma coisa sem pé nem cabeça, decididamente negativa, porém, a história da humanidade nada mais é do que um longo bocejo de tédio...Para quê? Por mim, dispensava.
- Mas você também - comentou - está incluído nessa humanidade, você também se dispensaria?
- Eu, sobretudo.

terça-feira, 12 de maio de 2009


Tive um grande desejo de estar em dia com todos os sentidos. Em dia com a moral que condenava uma vida como a minha; em dia com a natureza que queria que na minha idade uma mulher tivesse filhos; em dia com o gosto que queria que se vivesse entre objetos bonitos, roupas novas e bonitas e que se morasse em casas luminosas, limpas e comfortáveis. Só que uma coisa excluía a outra, e para estar em dia com a moral não podia estar em dia com a natureza, e o bom gosto contradizia ao mesmo tempo a moral e natureza. Pensando nisso, deu-me a irritação costumeira, tão antiga quanto minha vida, por me saber sempre em dívida com a necessidade e impotente para satisfazê-la, a não ser sacrificando minhas melhores aspirações. Uma vez mais percebi que ainda não aceitava completamente meu destino, e isso me devolveu um pouco de confiança, porque pensei que, quando surgisse a oportunidade de mudar, não estaria desprevenida e a aproveitaria com conhecimento e determinação.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Descobri-te entre as minhas dúvidas mais frequentes;
sobre amor e ódio, futuro e cientificismo.
No meio dos meus sonos mal dormidos,
entre um aperto e um beijo.
Estava ali o tempo todo,
entre uma decisão e uma incerteza,
debaixo do travesseiro ou sentada na janela.
Encontrei a estúpida má vontade que me veio ao encontro,
me deixando decair de mim mesma.
Aquela que vai contra quando tento dizer Não,
quando tento mudar e quando sei que não é com você que eu deveria estar.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Talvez eu não tivesse essa sensação de mundo feliz proibido, se durante minha infância, não me tivesse mantido distante do parque, assim como de qualquer outra diversão. Deve ser por isso, provavelmente, que me ficou para toda a vida uma espécia de suspeita de ter sido excluída do mundo alegre e cintilante da felicidade. Suspeita da qual não consigo libertar-me sequer quando tenho certeza de estar feliz.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

segunda-feira, 4 de maio de 2009


Desde nova, eu sou velha. Ou sou anormal, não vejo graça em coisas que o todo o resto do mundo vê. E eu considero ignóbeis, todos, um por um. Talvez os meus professores da quarta série estavam certos em dizer nas reuniões de escola que eu era uma pessoa arrogante. Arrogância ou ignorância? - Eu ignoro com a minha arrogância e desdém.
Vejo festejarem a vitória sobre um rival, buzinando e cantando os vencedores pela rua, músicas carnavalescas com palavras em horríveis sintonias e rimas. Horríveis cantarolas. E o que dizer dos blocos, grupos, versos dignos de manicômio, as músicas indigestas e, enfim, o Carnaval. Os homens são jograis, e as mulheres, bacantes.
Em festas, se atordoam e se embriagam não só com o álcool, com a lascívia das danças novas que o esnobismo foi buscar no arsenal de um cérebro demente.
- Ou sou arrogante com a minha ignorância?

quinta-feira, 30 de abril de 2009

infame


É da natureza humana o não agir sem um estímulo exterior; nossa vida mental não passa de sugestão de célula a célula e nossa vida social uma contínua sugestão de pessoa a pessoa. Dizer mal e gostar de ouvir falar mal de alguém é um velho cacoete da alma humana. Talvez seja a música mais harmônica que existe, porque convibra bem com qualquer espírito.
Há em toda a criatura humana um misto estranho de bondade e de maldade, de infâmia e de perversidade. As proporções dessa mistura é que variam ao infinito. Desde o tipo bom, completo, que sufoca perfeitamente o que há de mal dentro de si mesmo, porque a lucidez e a largueza de sua consciência lhe permitem reconhecer e dominar a própria tendência perversa, até o malvado arrematado, cuja consciência estreita e sensibilidade moral desgatada não permitem reconhecer o mal que vive dentro dele. E dizia um amigo meu; lo más grave y lo más triste es ver que cuanto mal son capaces los buenos. Esta revelación no es obra de ningún principio, de ninguna idea; es consecuencia del combate, que depierta malos instintos dormidos y pone en el caso y hasta en la necessidad a veces de satisfazerlos.
Em suma, a felicidade de qualquer é desespero para muitos.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

ele estava certo.


Naquele instante, não havia mais palavras e resolveu tocar-me o fundo da alma:
- Eu lhe tinha a perguntar, se de fato está satisfeita com a vida.
Pareceu-me triste e a nossa conversa não foi logo abundantemente sustentada. Estivemos alguns minutos calados.
- Me diga o motivo da pergunta
- Parece-me triste, desde que entramos aqui, te perdí inúmeras vezes. O seu olhar espairece, e logo mais volta ofuscado e sem vida.
Olhei-o a primeira vez com ódio, tive desejos de dizer-lhe o quanto era ruim a sua vida, e não era com a minha que ele deveria preocupar-se. Considerei melhor, e vi que verrinas nada adiantam, não destroem; se, acaso, conseguem afugentar, magoar o adversário, os argumentos deste ficam vivos, de pé. O melhor, pensei, seria opor argumentos a argumentos, pois se uns não destruíssem os outros, ficariam ambos face a face. Com essa reflexão, vieram-me recordações de minha vida, de toda ela, do meu nascimento, infância, puerícia e mocidade.
Verifiquei, que, até ao curso secundário as minhas manifestações, quaisquer, de inteligência e trabalho, de desejos e ambições, tinham sido recebidas, senão com aplauso ou aprovação, ao menos como coisa justa e do meu direito; e que daí por diante, que me dispus a tomar na vida o lugar que parecia ser de meu dever ocupar, não sei que hostilidade encontrei, não sei que estúpida má vontade me veio ao encontro, que me fui abatendo, decaindo de mim mesmo, sentindo fugir-me toda aquela soma de idéias e crenças que me alentaram na minha adolescência. Resolvi lembrar trechos de minha vida, sem reservas nem perífrases, para de algum modo mostrar ao tal moço que perguntava-me, que, sendo verdadeiras as suas observações, a sentença geral que tirava, não estava em nós, na nossa carne e nosso sangue, mas fora de nós, na sociedade que nos cercava, as causas de tão feios fins de tão belos começos;
Nascí bem, mal-querida, ninguém aos dezessete anos deseja ter filhos, qualquer rapaz de vinte anos só pensa em moto e carros. Tirei a mocidade dos meus pais e a tranquilidade dos meus avós. Sem antes entender o que era casamento, ví meus pais separarem-se, e entendí. Ví minha mãe chorar, meu pai sair, minha vó fofocar, e entendí. Mudei de casa, passei em um bom colégio, vivo apenas com a minha mãe, da qual trabalha o dia inteiro, e entendí. Tenho uma família horrível, avó machista, depois de ser filha de um casamento frustrado, fui tachada de meretriz, alegando não ter estrutura, fazem o errado hoje, para julgar quem faz o mesmo amanhã, e entendí. Tenho tudo o que quero, vou mal na escola, sou frustrada, nunca me sinto bem, vivo doente, e isso, eu não entendo.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

até mais

Agora eu só sei que não aguento mais. Sozinha eu me acabo. Não preciso de ninguém pra isso. Minha paranóia é o bastante para o nosso fim. E isso me deixa sem vontade de escrever, de ler e dormir. Eu volto mais tarde, amanhã talvez, semana que vem, quem sabe? Enquanto isso, vou com a minha desconfiança exagerada e injustificada (ou talvez justificada? muito bem por sinal).

terça-feira, 31 de março de 2009

Yara Yara Yara
sereia do mar, cor de areia
no horizonte, seu corpo delineia
em meio a tantas curvas, volteia
Yara Yara Yara
Para onde foram aqueles olhos de sabedoria?
Que haja silêncio no mar,
sua voz é igual à voz de todas as dores do mundo.
Cantam nautas, choram flautas
pelo mar, Yara cantou
valendo o destino dos homens
mais ainda daquele que confiou,
daquele que amou.
No lugar da aliança,
qualquer anel sujo,
Yara Yara Yara.
Não tente esconder,
eu vejo dor em seus olhos.

sexta-feira, 27 de março de 2009

de mim, para vocês

há dias isso me corrói, então hoje meus caros, eu vou deixar de lado a minha obscuridade, a minha hipocrisia, não vou ligar para grámatica, não vou conjulgar o verbo, não vou usar corretamente a vírgula, eu só vou escorrer essa podridão que vem de mim, para vocês.
foi nessa semana que me sentí só, literalmente. Só sem pai, só sem mãe. Por mais amigos que você possa ter, não há ninguém em quem você possa confiar, ou que eu possa. Aquela pessoa que sempre dizia nunca, agora nunca diz nunca, pois sabe o efeito e a contradição que isso causa. Eu me sentí horrivelmente um lixo sem importância por ter falado a verdade a alguém. E eu lhes digo, esse alguém, é um rato burguês de uma sociedade hipócrita e mandarinata. Não digo para ofender, não escrevo em tom de fúria, de vingança, ele o é mesmo. Enfim, foi para este que dirigi minhas palavras, em tom de harmonia, esperando um gesto de aceitação e mudança em relação a minha opinião, não só minha, mas como a de todo o resto do mundo que o conhecesse, em dois minutos, tirariam a mesma conclusão, a mesma verdade seria dita. Mas, (MAS!) como qualquer cidadão mimado, esperei o gesto errado. Desde o fato, todos me odeiam, e esses todos, eu me refiro a quem concorda comigo, mas está interessado no dinheiro do mimadinho. Então eu lhes pergunto, é certo eu desistir dos meus planos, mudar de casa, deixar o colégio, deixar o vestibular, esquecer do futuro, por que alguém não sabe ser contrariado, mesmo que seja com a verdade? E no fim, ele espera as minhas sinceras desculpas, apenas porque o bolso da sua calça Brooksfield está cheio de dinheiro, e a verdade? Não importa.

la muerte


Me refiro a tal, como força suprema, omnipresente e omnisciente. Letra maiúscula; a Morte. Merece mais louvor; é Ela que faz todas as consolações das nossas desgraças; é Dela que nós esperamos a nossa redenção; é Ela a quem todos os infelizes pedem socorro e esquecimento. É o aniquilamento de todos nós; gosto da Morte porque Ela nos sagra. Em vida, todos nós só somos conhecidos pela calúnia e maledicência, mas, depois que Ela nos leva, nós somos conhecidos pelas nossas boas qualidades. É inútil estar vivendo, para ser dependente dos outros; é inútil estar vivendo para sofrer os vexames que não merecemos. Ela é a grande libertadora que não recusa os seus benefícios a quem lhe pede. Sendo assim, eu a sagro, antes que Ela me sagre na minha pobreza, na minha infelicidade, na minha desgraça e na minha honestidade.

quinta-feira, 26 de março de 2009

— Bem. Compreendes perfeitamente que não tenho mais motivo para viver. Estou sem destino, a minha vida não tem fim determinado. Não quero ser senador, não quero ser deputado, não quero ser nada. Não tenho ambições de riqueza, não tenho paixões nem desejos. A minha vida me aparece de uma inutilidade de trapo. Já descri de tudo, da arte, da religião e da ciência. Tudo o que há na vida, o que lhe dá encanto, já não me atrai, e expulsei do meu coração. Não quero amantes, é coisa que sai sempre uma caceteação; não quero homem, marido, porque não quero ter filhos, continuar assim a longa cadeia de desgraças que herdei e está em mim em estado virtual para passar aos outros. Não quero viajar; enfada. Que hei de fazer?
Eu quis dar-lhe um conselho final, mas abstive-me, e respondi, em contestação:
— Matar-te.
— É isso que eu penso; mas...
— Não tens coragem? - perguntei eu.
— Eu me explico. Admito a piedade em mim, para os outros; mas não admito a piedade dos outros para mim.
— Mas escreve.
— Não sei escrever. A aversão que há na minha alma excede às forças do meu estilo. Eu não saberei dizer tudo o que de desespero vai nela; e, se tentar expor, ficarei na banalidade e as nuanças fugidias dos meus sentimentos não serão registradas. Eu queria mostrar a todos que fui traída; que me prometeram muito e nada me deram; que tudo isso é vão e sem sentido, estando no fundo dessas coisas pomposas, arte, ciência, religião, a impotência de todos nós diante de alguns mistério do mundo. Nada disso nos dá o sentido do nosso destino; nada disto nos dá uma regra exata de conduta, não nos leva à felicidade, nem tira as coisas hediondas da sociedade. Era isso...

quarta-feira, 25 de março de 2009

you're my favorite mistake


your friends are sorry for me
they watch you pretend to adore me
but I'm no fool to this game
now here comes your secret lover
she'll be unlike any other
until your guilt goes up in flames.

terça-feira, 24 de março de 2009


esta incerteza que me comprime de todos os lados equivale, para mim, a uma certeza e torna possível a minha liberdade - é o fundamento da moral especulativa com todos os risos. O meu pensamento vai adiante dela, com a minha atividade; de preparar o mundo, dispõe do futuro. Parece-me que sou senhora do infinito, porque o meu poder não é equivalente a nenhuma quantidade determinada; quanto mais penso, mais espero.

terça-feira, 3 de março de 2009

neurastenia

Não percebes que não me é dado oferecer batalha: que sou como um exército que tem sempre um flanco aberto ao inimigo? A derrota é fatal. Se ainda houvesse me curvado ao estatuído, podia...Agora...não posso mais. No entanto tenho que ir na vida pela senda estreita da prudência e da humildade, não me afastarei dela uma linha, porque à direita há os espeques dos imbecis, e à esquerda, a mó da sabedoria mandarinata ameaça triturar-me. Tenho que avançar como uma acrobata no arame. Inclino-me daqui, inclino-me dali; e em torno recebo a carícia do ilimitado, do vago, do imenso...Se a corda estremece acovardo-me logo, o ponto de mira me surge recordado pelo berreiro que vem debaixo, em redor dos gritos; neurastênica.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009


E só pensar em algum assunto para escrever que me lembro de ti e da tua desgraça, faço macumba, mal-olhado, jogo galinha preta na encruzilhada e o que muda está só aqui dentro, não vai embora, só cresce com uma dor que não consigo exprimir, recuso todas as aproximações, jogo prato de vidro em quem entra, tranco a porta e engulo a chave, peço que me deixem em paz e só com a minha lástima e a minha decepção, mas você não. Fumarás e beberás excessivamente, aborrecerás todos os seus amigos com as suas histórias de bisbilhotices, dormirás dias em loucura e noites ansiadas por ilícitos, faltarás mais ao trabalho, pensarás em suicídios e apelará para o desconhecido, chorarás desamparado atravessando madrugadas em tua cama vazia e fria, não conseguirás sorrir sem descobrires em algum jeito alheio o meu exato jeito, em algum cheiro estranho o meu preciso cheiro.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009


Sabe, são tantas mentiras que eu já não aguento mais. Uma verdade só pra mim, não basta. Uma tristeza incontrolável. Uma boca de lixo com grandes olhos azuis, prontos para qualquer dissimulação, seu enorme mecanismo de defesa. As pupílas não dilatam, a boca não treme, o olhar não muda sua direção e o coração não sofre nenhuma alteração. Tanto eu disse naquele dia, tua presença me fazia mal, as suas palavras mal ditas, e o seu toque despejavam sériamente histórias mal contadas sobre a minha pele. Todas as promessas mal feitas que tu me fizestes, eu já esquecí. Todos os sentimentos mal demonstrados, já se foram. O que eu guardo aqui dentro é bem maior do que o amor. Qualquer decepção supera o amor, qualquer traição supera o afeto e o respeito, do qual era o mínimo que poderia ter em relação à esta pessoa que agora escreve pensando em ti, e em todos os momentos bons que passaram. Por toda a maturidade que eu conseguí te passar, e pela metade que ainda te faltou. Por todos os lugares em que pensamos em visitar, mas ainda não houve tempo e dinheiro. Por todas as cartas escritas, e não entregadas. Por todos os cigarros não fumados e pelos cervejas que ainda não bebemos. Por todas as pessoas que não conhecemos, e que não podem passar despercebidas. Por tudo o que ainda há de bom dentro deste ser, que eu espero ter, o mínimo da pessoa que era, e que eu espero que seja. Não sou mulher de vingança, não sou criança, o meu ponto é outro. Posso ser menina, aquela que vai te fazer sofrer por tudo o que fez. Aquela menina que ficará de pé enquanto ajoelhará. E por tudo, ajoelhar é pouco. Para ter o aconchego de um abraço com um cheiro, deixará de ser o que é, esquecerá o que foi e o que fez, irá virar do avesso, se remontar, se refazer e dizer de peito cheio que virará homem.