quarta-feira, 13 de maio de 2009


- Olhe, pode ser que os homens sejam bons, ou sejam maus, não sei...Mas são evidentemente inúteis, supérfluos...
- Como assim?
- Quero dizer que a humanidade inteira poderia perfeitamente ser dispensada, é apenas uma feia excrescência na face do mundo, uma verruga...O mundo seria muito mais bonito sem os homens, sem suas cidades, suas ruas, seus portos, seus pequenos arranjos...Imagine só como seria bonito o mundo se só houvesse céu, mar, árvores, terra e animais.
Não pôde deixar de rir e exclamou:
- Que idéias esquisitas você tem.
- A humanidade - continuou - é uma coisa sem pé nem cabeça, decididamente negativa, porém, a história da humanidade nada mais é do que um longo bocejo de tédio...Para quê? Por mim, dispensava.
- Mas você também - comentou - está incluído nessa humanidade, você também se dispensaria?
- Eu, sobretudo.

terça-feira, 12 de maio de 2009


Tive um grande desejo de estar em dia com todos os sentidos. Em dia com a moral que condenava uma vida como a minha; em dia com a natureza que queria que na minha idade uma mulher tivesse filhos; em dia com o gosto que queria que se vivesse entre objetos bonitos, roupas novas e bonitas e que se morasse em casas luminosas, limpas e comfortáveis. Só que uma coisa excluía a outra, e para estar em dia com a moral não podia estar em dia com a natureza, e o bom gosto contradizia ao mesmo tempo a moral e natureza. Pensando nisso, deu-me a irritação costumeira, tão antiga quanto minha vida, por me saber sempre em dívida com a necessidade e impotente para satisfazê-la, a não ser sacrificando minhas melhores aspirações. Uma vez mais percebi que ainda não aceitava completamente meu destino, e isso me devolveu um pouco de confiança, porque pensei que, quando surgisse a oportunidade de mudar, não estaria desprevenida e a aproveitaria com conhecimento e determinação.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Descobri-te entre as minhas dúvidas mais frequentes;
sobre amor e ódio, futuro e cientificismo.
No meio dos meus sonos mal dormidos,
entre um aperto e um beijo.
Estava ali o tempo todo,
entre uma decisão e uma incerteza,
debaixo do travesseiro ou sentada na janela.
Encontrei a estúpida má vontade que me veio ao encontro,
me deixando decair de mim mesma.
Aquela que vai contra quando tento dizer Não,
quando tento mudar e quando sei que não é com você que eu deveria estar.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Talvez eu não tivesse essa sensação de mundo feliz proibido, se durante minha infância, não me tivesse mantido distante do parque, assim como de qualquer outra diversão. Deve ser por isso, provavelmente, que me ficou para toda a vida uma espécia de suspeita de ter sido excluída do mundo alegre e cintilante da felicidade. Suspeita da qual não consigo libertar-me sequer quando tenho certeza de estar feliz.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

segunda-feira, 4 de maio de 2009


Desde nova, eu sou velha. Ou sou anormal, não vejo graça em coisas que o todo o resto do mundo vê. E eu considero ignóbeis, todos, um por um. Talvez os meus professores da quarta série estavam certos em dizer nas reuniões de escola que eu era uma pessoa arrogante. Arrogância ou ignorância? - Eu ignoro com a minha arrogância e desdém.
Vejo festejarem a vitória sobre um rival, buzinando e cantando os vencedores pela rua, músicas carnavalescas com palavras em horríveis sintonias e rimas. Horríveis cantarolas. E o que dizer dos blocos, grupos, versos dignos de manicômio, as músicas indigestas e, enfim, o Carnaval. Os homens são jograis, e as mulheres, bacantes.
Em festas, se atordoam e se embriagam não só com o álcool, com a lascívia das danças novas que o esnobismo foi buscar no arsenal de um cérebro demente.
- Ou sou arrogante com a minha ignorância?