quinta-feira, 29 de janeiro de 2009


E só pensar em algum assunto para escrever que me lembro de ti e da tua desgraça, faço macumba, mal-olhado, jogo galinha preta na encruzilhada e o que muda está só aqui dentro, não vai embora, só cresce com uma dor que não consigo exprimir, recuso todas as aproximações, jogo prato de vidro em quem entra, tranco a porta e engulo a chave, peço que me deixem em paz e só com a minha lástima e a minha decepção, mas você não. Fumarás e beberás excessivamente, aborrecerás todos os seus amigos com as suas histórias de bisbilhotices, dormirás dias em loucura e noites ansiadas por ilícitos, faltarás mais ao trabalho, pensarás em suicídios e apelará para o desconhecido, chorarás desamparado atravessando madrugadas em tua cama vazia e fria, não conseguirás sorrir sem descobrires em algum jeito alheio o meu exato jeito, em algum cheiro estranho o meu preciso cheiro.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009


Sabe, são tantas mentiras que eu já não aguento mais. Uma verdade só pra mim, não basta. Uma tristeza incontrolável. Uma boca de lixo com grandes olhos azuis, prontos para qualquer dissimulação, seu enorme mecanismo de defesa. As pupílas não dilatam, a boca não treme, o olhar não muda sua direção e o coração não sofre nenhuma alteração. Tanto eu disse naquele dia, tua presença me fazia mal, as suas palavras mal ditas, e o seu toque despejavam sériamente histórias mal contadas sobre a minha pele. Todas as promessas mal feitas que tu me fizestes, eu já esquecí. Todos os sentimentos mal demonstrados, já se foram. O que eu guardo aqui dentro é bem maior do que o amor. Qualquer decepção supera o amor, qualquer traição supera o afeto e o respeito, do qual era o mínimo que poderia ter em relação à esta pessoa que agora escreve pensando em ti, e em todos os momentos bons que passaram. Por toda a maturidade que eu conseguí te passar, e pela metade que ainda te faltou. Por todos os lugares em que pensamos em visitar, mas ainda não houve tempo e dinheiro. Por todas as cartas escritas, e não entregadas. Por todos os cigarros não fumados e pelos cervejas que ainda não bebemos. Por todas as pessoas que não conhecemos, e que não podem passar despercebidas. Por tudo o que ainda há de bom dentro deste ser, que eu espero ter, o mínimo da pessoa que era, e que eu espero que seja. Não sou mulher de vingança, não sou criança, o meu ponto é outro. Posso ser menina, aquela que vai te fazer sofrer por tudo o que fez. Aquela menina que ficará de pé enquanto ajoelhará. E por tudo, ajoelhar é pouco. Para ter o aconchego de um abraço com um cheiro, deixará de ser o que é, esquecerá o que foi e o que fez, irá virar do avesso, se remontar, se refazer e dizer de peito cheio que virará homem.