quinta-feira, 30 de abril de 2009

infame


É da natureza humana o não agir sem um estímulo exterior; nossa vida mental não passa de sugestão de célula a célula e nossa vida social uma contínua sugestão de pessoa a pessoa. Dizer mal e gostar de ouvir falar mal de alguém é um velho cacoete da alma humana. Talvez seja a música mais harmônica que existe, porque convibra bem com qualquer espírito.
Há em toda a criatura humana um misto estranho de bondade e de maldade, de infâmia e de perversidade. As proporções dessa mistura é que variam ao infinito. Desde o tipo bom, completo, que sufoca perfeitamente o que há de mal dentro de si mesmo, porque a lucidez e a largueza de sua consciência lhe permitem reconhecer e dominar a própria tendência perversa, até o malvado arrematado, cuja consciência estreita e sensibilidade moral desgatada não permitem reconhecer o mal que vive dentro dele. E dizia um amigo meu; lo más grave y lo más triste es ver que cuanto mal son capaces los buenos. Esta revelación no es obra de ningún principio, de ninguna idea; es consecuencia del combate, que depierta malos instintos dormidos y pone en el caso y hasta en la necessidad a veces de satisfazerlos.
Em suma, a felicidade de qualquer é desespero para muitos.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

ele estava certo.


Naquele instante, não havia mais palavras e resolveu tocar-me o fundo da alma:
- Eu lhe tinha a perguntar, se de fato está satisfeita com a vida.
Pareceu-me triste e a nossa conversa não foi logo abundantemente sustentada. Estivemos alguns minutos calados.
- Me diga o motivo da pergunta
- Parece-me triste, desde que entramos aqui, te perdí inúmeras vezes. O seu olhar espairece, e logo mais volta ofuscado e sem vida.
Olhei-o a primeira vez com ódio, tive desejos de dizer-lhe o quanto era ruim a sua vida, e não era com a minha que ele deveria preocupar-se. Considerei melhor, e vi que verrinas nada adiantam, não destroem; se, acaso, conseguem afugentar, magoar o adversário, os argumentos deste ficam vivos, de pé. O melhor, pensei, seria opor argumentos a argumentos, pois se uns não destruíssem os outros, ficariam ambos face a face. Com essa reflexão, vieram-me recordações de minha vida, de toda ela, do meu nascimento, infância, puerícia e mocidade.
Verifiquei, que, até ao curso secundário as minhas manifestações, quaisquer, de inteligência e trabalho, de desejos e ambições, tinham sido recebidas, senão com aplauso ou aprovação, ao menos como coisa justa e do meu direito; e que daí por diante, que me dispus a tomar na vida o lugar que parecia ser de meu dever ocupar, não sei que hostilidade encontrei, não sei que estúpida má vontade me veio ao encontro, que me fui abatendo, decaindo de mim mesmo, sentindo fugir-me toda aquela soma de idéias e crenças que me alentaram na minha adolescência. Resolvi lembrar trechos de minha vida, sem reservas nem perífrases, para de algum modo mostrar ao tal moço que perguntava-me, que, sendo verdadeiras as suas observações, a sentença geral que tirava, não estava em nós, na nossa carne e nosso sangue, mas fora de nós, na sociedade que nos cercava, as causas de tão feios fins de tão belos começos;
Nascí bem, mal-querida, ninguém aos dezessete anos deseja ter filhos, qualquer rapaz de vinte anos só pensa em moto e carros. Tirei a mocidade dos meus pais e a tranquilidade dos meus avós. Sem antes entender o que era casamento, ví meus pais separarem-se, e entendí. Ví minha mãe chorar, meu pai sair, minha vó fofocar, e entendí. Mudei de casa, passei em um bom colégio, vivo apenas com a minha mãe, da qual trabalha o dia inteiro, e entendí. Tenho uma família horrível, avó machista, depois de ser filha de um casamento frustrado, fui tachada de meretriz, alegando não ter estrutura, fazem o errado hoje, para julgar quem faz o mesmo amanhã, e entendí. Tenho tudo o que quero, vou mal na escola, sou frustrada, nunca me sinto bem, vivo doente, e isso, eu não entendo.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

até mais

Agora eu só sei que não aguento mais. Sozinha eu me acabo. Não preciso de ninguém pra isso. Minha paranóia é o bastante para o nosso fim. E isso me deixa sem vontade de escrever, de ler e dormir. Eu volto mais tarde, amanhã talvez, semana que vem, quem sabe? Enquanto isso, vou com a minha desconfiança exagerada e injustificada (ou talvez justificada? muito bem por sinal).