quinta-feira, 29 de abril de 2010

Nova Gente e Os poucos

Odeio-os.
Odeio as pessoas sem educação e os ignorantes. Odeio as pessoas pomposas e falsas. Odeio os invejosos e os ressentidos. Odeio os mesquinhos, os avaros e os insignificantes. Odeio todas as criaturas pequenas que não têm vergonha de ser tão pequenas e inúteis. Odeio aquilo que pode-se classificar de Nova Gente, a nova classe média com os seus automóveis, o seu dinheiro, as suas televisões, as suas estúpidas vulgaridades e a sua ridícula imitação da burguesia.
Amo a honestidade, a liberdade e a generosidade. Amo criar, amo fazer, amo viver uma vida cheia, amo tudo o que não está imóvel, que não está morto, que não copia.
Sinto mais e mais este terrível peso morto da insignificante Nova Gente sobre tudo e todos. Estão corrompendo tudo, não há dúvida. Vulgarizam tudo. Chegam a matar as paisagens, como meu pai costumava dizer, a produção em massa, tudo em massa.
Eu sei perfeitamente que devíamos fazer face ao rebanho, tentar controlar a correria. Deveríamos trabalhar para eles e tolerá-los. Nunca me suicidarei, porque isso é a coisa mais desprezível que existe, só para fugir a uma vida que não me agrada. Mas, por vezes, confesso, a coisa é assustadora: pensar na luta pela vida é verdadeiramente odioso, se pensarmos a sério no assunto.
Tudo isso é conversa. É muito provável que eu me case com o homem que me apaixonei, que tenha filhos e que tudo mude tanto que nunca mais me preocuparei com estas coisas. Passarei a ser uma Mulher Pequena. Irei para o campo inimigo. Sempre tenho isso em mente. E temo.
No entanto, isto é o que penso atualmente. Pertenço a um grupo de pessoas que tem de lutar contra todo o resto. Não sei ao certo quem compõe o grupo - homens famosos, vivos ou mortos, que lutaram pelas causas justas, que criaram e pintaram com arte e carinho, e as pessoas não famosas que não mentem, que tentam não ser preguiçosas, que procuram ser humanas e inteligentes.
Não precisam de ser boas pessoas. Todas elas têm momentos de fraqueza. Momentos de sexo e de álcool. Momentos covardes e momentos de ambição financeira. Alguns pensam mesmo em matar-se. Mas uma parte, uma boa parte, está de corpo e alma com o movimento.
Os poucos.

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